Dono do maior rebanho do país, MT avalia importar gado
Atualmente a diferença de custo na produção chega a 10%, já considerados tributos e logística

A indústria frigorífica de Mato Grosso busca alternativas para reverter a crise causada pela falta de animais para o abate. A importação de gado vivo de outros países é uma das opções que, neste momento, é analisada pela entidade que representa o setor no estado. Resultados de janeiro acionaram o alerta, após a ociosidade das plantas frigoríficas aumentar pela quarta vez consecutiva e as indústrias, ainda em operação, utilizarem apenas 45,03% da sua capacidade. Com essa taxa, o estado atinge seu menor patamar desde maio de 2018, quando o Brasil enfrentava a greve dos caminhoneiros.
Os dados são do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). “A ociosidade da indústria do estado já atinge níveis críticos e a saída de animais vivos [para outros estados] continua a agravar esta situação”, alerta Tadeu Paulo Bellincanta, presidente do Sindicato das Indústrias de Frigoríficos do Estado de Mato Grosso (Sindifrigo).
A saída de animais vivos para abate em frigoríficos fora do estado ocorre, segundo Bellincanta, em razão a diferença tributária na comercialização entre os estados. Atualmente a diferença de custo na produção chega a 10%, já considerados tributos e logística.
Entretanto, a preocupação maior da entidade está no termômetro que sinaliza se a indústria frigorífica vai bem. Sem ter matéria-prima, os abatedouros estão praticamente vazios e com escalas diárias bem aquém para o período. Nos últimos dias, situação não tem dado sinais de melhora.
“Com a oferta restrita de animais no estado, o consumo no mercado interno ainda tímido e o mercado externo mantendo as exportações abaixo do esperado no comparativo anual, a expectativa é que este cenário de baixa utilização industrial se estenda em fevereiro deste ano”, antecipa os analistas do Imea.
A previsão é fundamentada em resultados recentes. Na penúltima semana de fevereiro de 2020, os frigoríficos do estado trabalhavam com uma escala de abates média de 7,31 dias, cenário bem diferente ao deste ano em que as indústrias têm estoques só para 4,40 dias de trabalho. A diferença quase chega a três dias (2,91).
Com relação às operações, em janeiro, o setor em Mato Grosso estava com 93% das plantas frigoríficas funcionando, porém com utilização total reduzida em 1,69 pontos percentuais (p.p.), ante dezembro de 2020. Quando o desempenho é comparado com janeiro do ano passado, a queda é de 12,34 p.p. em que as indústrias usavam 57,37% de suas estruturas.
ALTERNATIVAS
As dificuldades para manter as atividades atingem o setor em todo o país. Nos últimos dias, para se sustentar no mercado, entidades que representam o setor buscam saídas alternativas dessa crise.
Uma dessas foi adotada pelo Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul (SICADEMS). A entidade levou ao Ministério da Agricultura (Mapa) um pedido de autorização para importação de gado vivo do Paraguai. A demanda chegou ao ministério no início deste mês e essa mesma ação não é descartada pelo sindicato representante do setor em Mato Grosso.
“Não estamos longe da volta do que já ocorreu há alguns anos, quando mais de dez plantas pararam suas atividades. Diante desta realidade, qualquer opção que possa minimizar a situação precisa ser avaliada pelo setor”, alertou Bellincanta.
O encaminhamento do pedido para importação pelo setor em Mato Grosso já está na pauta das decisões da entidade. “Ainda não solicitamos, mas o assunto está na pauta e ainda sob avaliação”, afirmou o presidente do Sindifrigo.
Pecuaristas temem doenças
Se por um lado trazer matéria-prima de fora pode amenizar a crise do setor, por outro desagrada os pecuaristas da região. A notícia da proposta de importação de gado vivo despertou um temor nos produtores e entidades do segmento, que anteveem o retorno de problemas sanitários já superados.
“Abrir para a importação nos colocaria em risco; pode ocorrer a reinserção de doenças entre o nosso rebanho, e isso é algo que nos preocupa”, observou Oswaldo Pereira Ribeiro Junior, presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat).
Um trabalho em conjunto entre produtores, o Mapa e o órgão de defesa estadual (Indea), fez com que Mato Grosso atingisse o status de livre da febre aftosa. O último caso da doença foi relatado há mais de 25 anos, o que ajudou na retirada da vacinação em algumas localidades.
Além da possibilidade de gerar novos problemas para a cadeia, a Acrimat afirma que a medida não terá o efeito esperado, como no exemplo dos preços. “A oferta de animais prontos pode resolver a situação de determinado frigorífico de certa região por uma, duas semanas. […] As chuvas estão voltando agora e a recuperação de pasto está se mostrando eficiente, o que nos dá a segurança em dizer que até março ou abril teremos animais prontos para abate”, minimizou Oswaldo Pereira.
Fonte: Jornal Estadão