Editora e drag queen relatam LGBTfobia; Sesc nega

A Umanos Editora e a drag queen Nelly Winter relatam LGBTfobia por parte do Sesc Arsenal, de Cuiabá, ao, segundo os denunciantes, cancelar o lançamento do livro “Versa: Brados em Linhas”, que estava agendado para o dia 31 de agosto.

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Drag queen Nelly Winter é uma das escritoras presentes no livro ‘Versa: Brados em Linhas’. — Foto: Reprodução/Instagram

O fato aconteceu, conforme a artista, depois que a entidade tomou ciência da presença dela, escritora de um dos textos presentes na publicação, no evento.

O Sesc negou as acusações, disse recebê-las com surpresa e informou que o evento está mantido, além de se posicionar contra qualquer tipo de preconceito.

A editora e a Associação da Parada do Orgulho LGBTQIA+ de Mato Grosso emitiram notas de repúdio. A Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados publicou mensagem de apoio à drag queen.

A performer registrou um boletim de ocorrência por injúria mediante preconceito. No documento, relatou que as negociações para o evento duraram cerca de 90 dias.

Em 3 de agosto, a editora enviou material de divulgação para conferência e informou o Sesc de que a drag queen era um dos 17 autores da obra e participaria do evento.

Foi quando, ainda conforme o registro na polícia, a responsável pelo evento enviou uma mensagem em áudio cancelando o lançamento do livro.

“A gente tá [sic] vivendo uma gestão muito conservadora e até o público que frequenta aqui, o Sesc Arsenal, tá [sic] muito conservador. Teve esse caso de um ator, um homem interpretando uma mulher, e o presidente ficou sabendo e teve demissão da analista, enfim. Já aconteceu [sic] outros casos de essas comadres que se vestem também […] de ter vindo aqui como público para assistir uma peça e um pai de uma criança reclamou. Então, estamos vivendo em um contexto muito complicado aqui. Eu acho que seria perigoso para mim liberar, infelizmente”, diz trecho da mensagem, transcrito no boletim de ocorrência.

Outra parte da transcrição diz que “uma orientação é evitar contratar artistas que se manifestem [politicamente] nas redes sociais”. E continua: “Está bem complicado aqui”.

A artista relatou, ainda, que pediu um comunicado sobre o cancelamento por e-mail, mas não teve retorno até o momento.

“Enquanto artista, em defesa da minha personagem, faço esse registro por me sentir privado de expressar a minha arte, a minha escrita, onde seria um espaço destinado a escritores locais, onde meus colegas poetas do projeto podem se expressar e eu não, por ser drag queen”, conclui o documento.

Em nota, o Serviço Social do Comércio (Sesc-MT) disse que o evento foi aprovado pela diretoria e permance na programação da entidade – deve ser realizado entre as 18h e 21h, na data agendada. Informou, ainda, que a Umanos Editora já promoveu diversos eventos no local, de forma gratuita, assim como outras editoras, entidades e artistas.

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Nelly Winter — Foto: Reprodução/Instagram

“Referente ao áudio de um colaborar, informamos que não temos conhecimento da gravação e também não fomos comunicados pela Editora Umanos da existência desse áudio. Entretanto, se um colaborador se manifestou sobre o assunto da forma como foi relatada, informamos que essa pessoa não tem autonomia para representar o Sesc-MT, pois quem aprova a realização de eventos é a diretoria e nunca houve a determinação desse posicionamento na instituição”, completa a nota.

A entidade reforçou que repudia qualquer ato de preconceito, reafirmando o seu compromisso com a cultura e com os artistas mato-grossenses. (Leia a íntegra ao final da reportagem)

Apoio

No fim da manhã desta sexta-feira (5), a Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados, por meio da presidente, professora Rosa Neide (PT), publicou uma nota de solidariedade à Nelly Winter.

“Não é possível que, em pleno século 21, preconceitos e discriminações possam atentar contra o direito de expressão e do exercício profissional, sob a justificativa de uma instituição possuir gestão conservadora e que não contrata artistas LGBTQIA+, sobretudo em um ano eleitoral”, diz o documento. (Leia a íntegra ao final da reportagem)

A Editora Umanos manifestou repúdio ao suposto cancelamento do evento e disse que a literatura, enquanto expressão da arte, deve sempre ser livre.

“Entendemos que esse episódio como fato que caracteriza discriminação e preconceito, em nome de meras políticas organizacionais e não pautadas em valores humanos. Nossa posição é contrária à LGBTfobia, portanto, dizemos ‘não’ a essa postura e expressão. Entendemos que, assim como na literatura, há uma diversidade de gêneros e será preciso que haja respeito à diversidade do gênero humano”, publicou a editora.(Leia a íntegra ao final da reportagem)

Já a Associação da Parada do Orgulho LGBTQIA+ de Mato Grosso disse, também em nota de repúdio, que trata-se de censura contra a comunidade como um todo e que o suposto cancelamento demonstra o regime de extremo autoritarismo e desrespeito ao processo de fazer e fomentar cultura no estado.

“Não podemos nos calar frente a uma censura autoritária e conservadora e nem permitir que em um espaço tão valoroso para cultura de Mato Grosso o fundamentalismo dite as regras para a invisibilidade e silenciamento de artes plurais. O Sesc Arsenal vem, ao longo de décadas, sendo o espaço de acolhimento das diferenças e de respeito às diversidades, mas, infelizmente, a posição do atual diretor colabora com o quadro que vivemos nacionalmente, cujo objetivo é negar e atacar a cultura e seus fomentadores”, diz o documento.

A nota acrescenta que a sociedade do estado não aplaude “atos de censura, muito menos endossa alegações nada democráticas” e diz que a atitude tenta silenciar ou impedir que vozes fora do padrão da heteronormatividade se firmem.

“Cumpre lembrarmos que o STF [Supremo Tribunal Federal] criminalizou a LGBTQIfobia, equiparando-a aos crimes de racismo. A arte drag deve ser respeitada, visto que é elemento histórico da cultura cênica mundial e carrega em sua história inúmeras atrizes e atores que já utilizaram desses personagens em novelas, filmes e campanhas publicitárias”, continua. (Leia na íntegra, abaixo).

Nota de Esclarecimento do Sesc-MT:

O Serviço Social do Comércio (Sesc-MT) atua há 73 anos no estado contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, por meio de ações que envolvem educação, saúde, cultura, lazer e assistência, proporcionando desenvolvimento e qualidade de vida aos trabalhadores do comércio e população em geral.

Nesta quinta-feira (04.08), a instituição foi surpreendida com graves acusações feitas pela Umanos Editora, que não condizem com a realidade, já que o referido lançamento da obra literária ‘Versa – Bardos em Linhas’ foi devidamente aprovado pela diretoria e, inclusive, consta na programação do Sesc-MT, disponibilizada no site da instituição, para ocorrer no dia 31 de agosto, no horário das 18h às 21h.

Inclusive, a Umanos Editora já promoveu diversos eventos no Sesc Arsenal, de forma gratuita, assim como outras editoras, entidades e artistas que buscam o espaço para a realização de lançamentos de livros, peças teatrais, exibição de filmes, debates, entre outros, sempre com acesso livre a todas as pessoas. Importante destacar que o Sesc Arsenal é um espaço privado, mantido pelos empresários do comércio e, além de eventos de cultura, também atende atividades de lazer, esporte e saúde.

Referente ao áudio de um colaborador, informamos que não temos conhecimento da gravação e também não fomos comunicados pela Editora Umanos da existência desse áudio. Entretanto, se um colaborador se manifestou sobre o assunto da forma como foi relatada, informamos que essa pessoa não tem autonomia para representar o Sesc-MT, pois quem aprova a realização de eventos é a diretoria e nunca houve a determinação desse posicionamento na instituição.

O Sesc-MT enfatiza que tem uma história consolidada na difusão e no enriquecimento da produção cultural do estado e repudia qualquer ato de preconceito, reafirmando o seu compromisso com a cultura e com os artistas mato-grossenses.

Cuiabá-MT, 05 de agosto de 2022

Nota de Solidariedade à escritora Nelly Winter, da Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados:

Esta tarde fui tristemente surpreendida por uma notícia veiculada em meios de comunicação da cidade de Cuiabá: o cancelamento de evento que lançaria a obra literária: “Versa – Bardos em Linhas”, escrita por 18 poetas, gênero poesia.

O evento ocorreria no Sesc Arsenal no dia 31 de agosto, mas foi cancelado por ter entre as escritoras uma artista Drag Queen.

Quero expressar meu apoio e solidariedade à escritora, Nelly Winter, cujo histórico profissional é de longa data. Não é possível que, em pleno século XXI, preconceitos e discriminações possam atentar contra o direito de expressão e do exercício profissional, sob a justificativa de uma instituição possuir “gestão conservadora e que não contrata artistas LGBTQIA+, sobretudo em um ano eleitoral.”

Não podemos silenciar diante de situações desta natureza, sob pena de nos tornarmos cúmplices de injustiças!

#NãoAoPreconceito
#NãoÀDiscriminação

Nota de Repúdio da Umanos Editora:

A Umanos Editora manifesta repúdio ao ato de cancelamento do evento no qual seria lançada a obra literária com o título “Versa – Bardos em Linhas”, escrita por 18 poetas, gênero poesia, por parte do SESC Arsenal, do sistema SESC Mato Grosso, pelo fato de uma das escritoras ser uma artista Drag Queen.

O repúdio a este ato se dá pelo fato de que a Literatura, enquanto expressão da arte, deverá sempre perpassar pela via da liberdade. A justificativa dada pela equipe da referida entidade foi a de que dentro do espaço público que possui, em Cuiabá, não pode ter apresentação ou manifestação de artistas ligados à comunidade LGBTBTQIA+, como homem que se traveste de mulher, seja em nome da arte Drag ou da literatura, com alegação de que o local se trata de um ambiente conservador, assim como o público que lá frequenta.

Entendemos esse episódio como fato que caracteriza discriminação e preconceito, em nome de meras políticas organizacionais e não pautado em valores humanos. Nossa posição é contrária a LGBTfobia, portanto dizemos NÃO a essa postura e expressão. Entendemos que, assim como na literatura, há uma diversidade de gêneros, será preciso que haja o respeito à diversidade do gênero humano.

Nota de Repúdio da Assoc. da Parada do Orgulho LGBTQIA+ de Mato Grosso:

A Associação da Parada do Orgulho LGBTQIA+ de Mato Grosso, repudia a censura LGBTQIfobica sofrida pela escritora e drag queen Nelly Winter. Rechaçamos a forma que a administração do SESC ARSENAL-MT, e o diretor CARLOS ALBERTO TONDATI RISSARO, utiliza para implantar um regime de extremo autoritarismo e desrespeito ao processo de fazer e fomentar cultura em Mato Grosso, transformando um espaço que durante décadas recebeu produções de vários artistas regionais e nacionais, incentivou a cultural em todas as suas dimensões e vertentes.

Diante o exposto, não podemos nos calar frente a uma censura autoritária e conservadora e nem permitir que em um espaço tão valoroso para cultura de Mato Grosso, o fundamentalismo dite as regras para a invisibilidade e silenciamento de artes plurais. O SESC ARSENAL vem a longo de décadas sendo o espaço de acolhimento das diferenças e de respeito às diversidades, mas infelizmente a posição do atual diretor colabora com o quadro que vivemos nacionalmente, cujo objetivo é negar e atacar a cultura e seus fomentadores, a sociedade de Mato Grosso não aplaude atos de censura, muito menos endossa alegações nada democráticas, diante de atitudes que pretendem silenciar ou impedir que vozes destoantes do padrão HETERONORMATIVO se firmem como única possibilidade de expressão.

Portanto, lutaremos todos os dias para combater atitudes como a do atual diretor do SESC ARSENAL, é urgente fazermos a defesa intransigente da democratização dos espaços e reafirmar nosso compromisso com a construção de uma sociedade justa, plural, laica e sem censura.

Cumpri lembramos que o STF criminalizou a LGBTQIfobia, equiparando-a aos crimes de racismo. A arte Drag deve ser respeitada, visto que é elemento historio da cultura cênica mundial, a riqueza dos palcos teatrais, e carrega em sua história inúmeras atrizes e atores que já utilizaram desses personagens em novelas, filmes e campanhas publicitarias. Denunciar e repudiar atitudes de conservadorismo e censura dos diretos do SESC ARSENAL é reafirmar o compromisso da Associação da Parada do Orgulho LGBTQIA+ de Mato Grosso com a cultura, promover e apresenta à sociedade do nosso estado produções artístico-culturais que fortalecem e demonstram como Mato Grosso, para além do cenário do Agro, é rico em produções culturais múltiplas.

CALA BOCA JÁ MORREU. CENSURA NUNCA MAIS.

Fonte Primeira Página

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