Vestido de miss MS vira polêmica por plágio a arte indígena
“Apropriou de uma arte que não é deles”. A frase é da estilista terena Natielly Albuquerque, de 22 anos, sobre o vestido usado pela miss Mato Grosso do Sul 2022, Hemilly Duarte, para representar a “Fantasia Regional” para o concurso nacional de beleza Miss Brasil.

A peça, segundo a estilista, residente da aldeia Marçal de Souza, primeira aldeia urbana do Brasil, localizada em Campo Grande, é uma cópia do que ela produziu e usou no concurso Miss Indígena 2022, que aconteceu em abril deste ano. Inclusive, Natielly participou do evento, desfilou com a roupa e ficou em segundo lugar.

Look postado nas redes sociais
O susto de ver sua produção copiada pela miss MS, de acordo com a estilista, ocorreu na terça-feira (2), quando Hemilly postou nas redes sociais o “traje Mãe do Pantanal”.
“Eu soube por um colega meu que me mandou ontem, logo que foi publicada a foto dela. Ele até falou que era parecido com o meu vestido. Perguntou se fui eu que fiz. Lá [na postagem], ela fala que foi confeccionado na aldeia Marçal de Souza, e não foi”, declara Natielly.
Confira abaixo o vídeo da Miss mostrando detalhes do vestido:
Logo que soube, a estilista contou tudo para os seus pais e foi atrás de mais informações.
“O meu amigo falou que a miss entrou em contato com ele perguntado se ele não fazia esse tipo de roupa. Ele falou que não fazia, que só mexia com sementes, e falou de mim, que faço e me indicou”, conta Natielly.

Na mesma conversa, o amigo dela enviou fotos de Natielly usando o vestido que ela mesma produziu, artesanalmente, para usar no Miss Indígena deste ano.
Assista abaixo Natielly desfilando com a peça autoral:
Quando o amigo informou que Natielly poderia fazer o vestido para Hemilly, a mesma falou que não precisava.
“Falou: ‘eu não preciso, porque tenho uma pessoa que faz’, e passou meu contato”, afirma a estilista.
Natielly jamais recebeu mensagens de Hemilly sobre o vestido. Ela também chegou a tentar contato com a Miss, mas, até hoje, nunca foi respondida. “Seria totalmente diferente”, afirma.

O assunto estava esquecido, até que voltou à tona quando soube que Hemilly usou um vestido muito igual ao dela.
A mãe de Natielly entrou em contato com a aldeia Marçal de Souza e descobriu que a Miss visitou o cacique do local e pegou algumas informações com o líder.
A estilista terena também soube que o vestido da Miss foi produzido por uma designer de moda e um pintor, ambos não indígenas.
“Apropriaram de uma arte que não é deles. Eu sei que não registrei [a peça], mas copiou minha peça”, reforça Natielly, que é estilista desde criança, época em que produzia seus artesanatos.

Questionada se faria o vestido para Hemilly usar no concurso de Miss Brasil, a estilista terena diz que aceitaria sem pestanejar.
“Faria! Com toda certeza eu faria. Nível Brasil. Eu seria reconhecida no Brasil. Não pensaria duas vezes na parceria”, enfatiza Natielly. Além disso, a estilista também reclama dos acessórios usados pela miss MS.
“Eu fiquei sentida também porque ela não cita o nome dos artistas indígenas que produziram os acessórios [cocar e colar]”, ressalta Natielly.
“Eu necessito de uma retratação da equipe dela. Isso já daria um processo por danos morais e apropriação cultural. Esse look, peça, é moda autoral (…) a própria foi informada e sugeriram meu trabalho, através do meu amigo. Creio que não custaria nada ter entrado em contato comigo”, finaliza a terena.
O que diz a miss
Hemilly Duarte, Miss MS 2022, foi procurada pela reportagem, via ligações. Porém, o número só cai na caixa de mensagem.
Também enviamos perguntas pelo WhatsApp, mas até o momento não obtivemos retorno.
Fonte Primeira Página