Confusão na triagem termina com enfermeiro de UPA algemado por PM 

Um enfermeiro, de 34 anos, acabou algemado e levado à delegacia após confusão durante atendimento a uma paciente, no último domingo (24), na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Jardim Leblon, em Campo Grande. Segundo ele, a mulher foi levada ao local por um policial, que se irritou ainda na triagem.

Segundo enfermeiro, PM se irritou com perguntas feitas à vítima de violência doméstica (Foto: Reprodução)
Segundo enfermeiro, PM se irritou com perguntas feitas à vítima de violência doméstica (Foto: Reprodução)

Conforme o profissional da saúde, que pediu para não ser identificado, um policial militar chegou com a mulher, que seria vítima de violência doméstica, momento que o enfermeiro pediu para que a paciente fosse colocada em uma maca, até a ficha dela fosse concluída.  

Durante algumas perguntas feitas pelo enfermeiro, como o nome da vítima, o PM teria se irritado e, alterado, houve discussão entre os dois. O profissional teria falado que os questionamentos faziam parte do protocolo, mas não evitou a confusão.  

Colocado algemado em uma viatura, o servidor foi encaminhado à Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) Cepol, no bairro Tiradentes.  

“Nos 11 anos de profissão, eu nunca imaginei passar por uma coisa dessa. Eu sempre venho mentalizando, tentando dar o meu melhor ao meu paciente, eu jamais iria omitir socorro estando numa área vermelha de uma unidade de pronto atendimento”, destacou o enfermeiro em entrevista à reportagem. 

O departamento jurídico do Sindicato dos Trabalhadores da Enfermagem de Campo Grande disse que vai se reunir com o enfermeiro para decidir se vão entrar com ação civil e criminal contra o militar, civil por danos morais e criminal por abuso de autoridade por terem levado algemado uma pessoa para a delegacia, em tese sem ter cometido crime algum.  

“A questão do eventual crime praticado, não foi caracterizado. Nem naquilo que foi o móvel dele ter sido levado pra delegacia, que foi omissão de socorro, nem outras tipificações como desobediência, resistência ou desacato. O que houve é que teve um apressamento da conduta da Polícia Militar. Naquele momento, inclusive, de maneira pacífica, ele [o enfermeiro] estava acompanhando as determinações da PM, mas teve que ser algemado, teve prejuízo ao sistema público de saúde que ficou desfalcado”, destacou o advogado Márcio Almeida.  

Posicionamentos 

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde ressaltou que o “servidor em questão realizava suas atividades de rotina no atendimento, triagem e identificação à paciente, uma vez que por se tratar de violência doméstica é necessário realizar a notificação compulsória do caso presente na unidade”, quando tudo aconteceu.  

A Sesau destacou ainda que “acompanha o caso de perto, sendo prestado o suporte necessário ao servidor, que após o fato não possuía condições psicológicas de retornar ao plantão”. A secretaria também ressaltou que houve “truculência” por parte da PM e que todo o atendimento necessário à paciente foi prestado mesmo após o ocorrido entre o servidor da Sesau e o policial militar. Porém, a mulher “evadiu-se da unidade após o acontecido”. 

O Coren-MS (Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso do Sul) também se manifestou sobre o caso e afirmou que “já está tomando as providências que compete ao conselho, iniciando uma investigação dos fatos”. 

O que diz a PM 

Em nota, a Polícia Militar disse que “inicialmente, cumpre esclarecer que não procede a informação de que o funcionário do Posto de Saúde teria sido conduzido a Delegacia de Polícia por um motivo torpe como o descrito, visto que perguntar o nome de alguém não se trata de conduta ilícita”.  

Segundo a PM, “a condução do funcionário se deu em virtude de omissão de socorro (conforme julgamento do policial militar que realizou a condução) à vítima que havia sido conduzida pela guarnição da PM à unidade de saúde em decorrência de um grave ferimento”.  

A nota ainda traz a versão apresentada pelo policial envolvido. “De acordo com o relatório policial, o funcionário não teria prestado pronto atendimento à vítima que permanecia em pé com o auxílio do policial militar, a mesma apresentava sangramento abundante. Consta que o funcionário teria abandonado o setor de emergência, mesmo tendo presenciado esse quadro e, em razão de tal atitude, que o policial militar entendeu ser um ato de omissão de socorro, o funcionário foi conduzido até a Delegacia de Polícia para prestar esclarecimentos acerca de seu comportamento, tendo sido conduzido dentro da viatura junto com os policiais militares”.

Fonte Primeira Página

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