Lucrar e dividir: indígenas distribuem renda milionária de lavoura em MT
Os indígenas Paresi de Mato Grosso relataram que o cultivo de grãos, como soja, milho e feijão, transformou a vida da população em seus territórios, gerando emprego e qualidade de vida.
Por ano, eles movimentam mais de R$120 milhões, recurso milionário que usam para pagar as despesas, investir na plantação do próximo ano e dividir entre todos os habitantes das aldeias que cultivam os grãos.
“No último ano, um pouco mais de R$8 milhões foram distribuídos, como se fosse o bolsa-família para os não indígenas. A distribuição desses R$8 milhões é feita de forma per capita, conforme o número de pessoas de cada família”, explicou o líder indígena Arnaldo Zunizakae, membro da Coopihanama (Cooperativa Agropecuária dos Povos Indígenas Haliti-Paresi, Nambikwara e Manoki Coopihanama).
O programa de distribuição de renda atende cerca de 3 mil pessoas que vivem nas terras indígenas onde atua a Coopihanama. Cada família recebe, em média, R$4 mil por ano.
Compra de medicamentos e insumos
Segundo o líder Paresi, o recurso arrecadado com a lavoura também é usado para comprar medicamentos e insumos, e foi fundamental durante os picos da pandemia da covid-19.
“Nós também atendemos a saúde com o nosso recurso. A cooperativa investiu mais de R$100 mil durante a pandemia para o complemento de medicamento, insumos e materiais que as equipes da saúde da Sesai [Secretaria Especial de Saúde Indígena] necessitavam”, afirmou.
Bolsas para estudantes indígenas
Arnaldo ainda revelou que as associações tem contribuído com bolsas de estudos para os estudantes indígenas. Além disso, reforçou que as condições de trabalho e os auxílios possibilitam que os pais tenham condições de apoiar os filhos durante a graduação.
“A agricultura ela tem melhorado muito a vida do povo. Temos mais de 40 indígenas formados, com nível superior em diversas áreas. Hoje, o indígena Paresi abandona a escola e a faculdade, se não quiser estudar”, enfatizou.
História do cultivo de grãos
Há 20, o povo Paresi iniciou o projeto da lavoura mecanizada em uma área total de 19.600 hectares distribuídas em cinco Terras Indígenas: Paresi, Rio Formoso e Utiariti da etnia Paresi, Irantxe da etnia Manoki; e Tirecatinga da etnia Nambikwara.
Segundo Arnaldo, jovens e adultos do seu povo saiam de seu território em busca de emprego em fazendas da região, o que ocasionou uma evasão das terras indígenas. Mas, o mais grave veio em seguida, quando as aldeias começaram a registrar casos de desnutrição infantil.
Diante da situação, as lideranças começaram a buscar alternativas de geração de renda dentro do território e viram na plantação de grãos a possibilidade de trazer de volta as pessoas que saíram de suas aldeias e geração de renda para às famílias.
Mas, sem recursos, eles iniciaram às atividades em parceria com produtores rurais não indígenas. Eles ficavam com 50% do recurso adquirido com a produção e os outros 50% eram repassados ao financiador.
Na época das parcerias, a Funai (Fundação Nacional do Índio) determinou que os Paresi guardassem 50% do recurso que eram destinados a eles. Assim, a Coopihanama já nasceu com dinheiro em caixa.
Como garantia, a safra é ofertada em penhor, pois não é possível dar a terra, que é de usufruto exclusivo dos povos indígenas, mas pertence a União.
Emprego no território
Hoje, a produção de grãos emprega aproximadamente 250 trabalhadores diretos, dos quais 95% são indígenas. No período do plantio, o número de funcionários ultrapassa 300 pessoas, o que inclui a mão de obra não indígena, feita por trabalhadores terceirizados.
“Nós estamos com 70% dessas pessoas já contratadas no regime CLT. Pouquíssimos não indígenas prestam serviço para nós, mais naquelas áreas que não temos quantidade suficiente de pessoas formadas”, explicou.
Campo Novo do Parecis
Sapezal
Fonte Primeira Página