Cronologia do crime: agente morreu pouco mais de 3 minutos após descer do carro

Pouco mais de 3 minutos após descer do carro, o agente do socioeducativo Alexandre Myagawa de Barros, de 41 anos, foi baleado com três tiros pelas costas disparados pelo tenente-coronel da Polícia Militar e vereador de Cuiabá, Marcos Paccola (Republicanos). A cronologia do assassinato consta no inquérito policial divulgado nesta sexta-feira (22) pela Polícia Civil.

Laudo aponta que agente levou três tiros pelas costas do vereador Paccola
Crime aconteceu em 1º de julho, em Cuiabá. (Foto: Montagem)

O inquérito pede o indiciamento de Paccola pelo crime de homicídio qualificado por recurso que impossibilitou a defesa da vítima. O laudo, que estava em sigilo, mostra que Alexandre desce do carro, pela porta do carona, às 19:12:59h. Às 1916:06h Paccola atira. E Alexandre cai no chão e morre no local.

A morte foi no dia 1º de julho, no bairro Quilombo em Cuiabá. Conforme o documento, a namorada de Alexandre, Janaína Maria Santos Cícero de Sá Caldas, que conduzia o veículo, entra na contramão e quase atinge um motociclista de frente às 19:12:46h na rua Arthur Bernardes.

“É possível observar o exato momento em que um veículo de cor branca entra na contramão de frente com o motociclista, que muda de direção bruscamente se espremendo entre os carros estacionados para não ser atropelado”, diz o laudo.

Vereador atira e mata agente de segurança
Vereador atira e mata agente de segurança do sistema socio educativo

Entenda a dinâmica do crime

Todos os trechos a seguir, foram retirados do inquérito policial assinado pelo delegado de polícia, Hércules Batista Gonçalves. A reportagem alterou alguns termos técnicos e acrescentou o nome dos envolvidos para facilitar o entendimento do leitor.

O laudo usou imagens de quatro câmeras de segurança que ficam próximas ao local de crime.

  • “Às 19:12:37h o carro para no meio da pista e a porta do carona é aberta interrompendo o fluxo. Na sequência, o veículo estaciona à direita, liberando o trânsito. Alguns segundos depois, a condutora trajando short e blusa preta caminha pela calçada em direção a conveniência”.
  • “As imagens mostram que às 19:15:04h Alexandre se aproxima da namorada, levanta o braço e toca o pescoço da mulher, que empurra o braço dele para baixo, afastando-o. Em seguida, ele se aproxima de novo e tenta tocá-la, mas ela se esquiva”.
  • A confusão continua, e cerca de 1 minuto depois, “Alexandre segura um objeto na mão direita e as pessoas se afastam. Às 19:15:58h ele levanta a mão direita para o alto, e a mulher bem próxima a ele caminha”.
  • “Alexandre abaixa a mão, fazendo movimento de caminhada, movendo o braço direito para a frente e para trás. Às 1916:06h é possível ver que um homem de camiseta preta (Paccola) aparece na esquina, fazendo movimento de visada (mira) e atira”.

Veja o vídeo:

O indiciamento

O procedimento foi protocolado no TJ-MT (Tribunal de Justiça de Mato Grosso) nessa quarta-feira (20), e foi encaminhado ao Nipo (Núcleo de Inquéritos Policiais).

O laudo da perícia apontou que a vítima foi atingida por três disparos de arma de fogo pelas costas. De acordo com o laudo pericial, um dos tiros não provocou ferimentos graves. Os outros dois, porém, causaram lesões nos pulmões, diafragma, fígado, átrio e pericárdio, e levaram à perda de muito sangue.

“Após análise das provas testemunhais e fatos registrados pelas câmeras de segurança, foi possível verificar alguns elementos importantes para elucidação do ocorrido, como o fato da  vítima não ter esboçado qualquer reação e a namorada da vítima em nenhum momento ter pedido ajuda a terceiros”, diz trecho do documento.

Paccola está sendo investigado por homicídio no Centro de Cuiabá (Foto: Reprodução)
Paccola está sendo investigado por homicídio no Centro de Cuiabá (Foto: Reprodução)

Os peritos concluíram que a morte do agente foi por “choque hipovolêmico hemorrágico, secundário a trauma torácico por projéteis de arma de fogo”. 

Testemunha

Uma das testemunhas que presenciaram o assassinato de Alexandre Miyagawa disse à polícia, em depoimento, que a namorada da vítima, Janaína Sá, pediu que atirasse em todo mundo e que, por isso, sacou a arma.

No entanto, afirma que Alexandre, apesar de levantar o revólver para cima, não chegou a ameaçar as pessoas e que tentou a todo momento acalmar a mulher, que segundo a testemunha estava “bêbada e muito alterada”.

De acordo com o relato da testemunha, Janaína começou a discutir com várias pessoas que estavam em uma distribuidora de bebidas. Um vídeo mostra a mulher que aparece discutindo. Em seguida, o casal vai em direção do carro – a mulher na frente e o policial penal andando atrás dela. O vereador chega por trás, já mirando na vítima, e faz o disparo.

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Colegas de Alexandre fizeram protesto em frente da Câmara de Cuiabá (Foto: Luiz Gonzaga Neto)

“Chegando na lateral da distribuidora, ela começou a gritar com todo mundo. Falando que ninguém prestava e coisas desse tipo. O Japão ficou todo o tempo falando ‘vamos pra lá, deixa quieto’. Ele puxava o braço dela e ela falava, ‘sai daqui, foda-se você’. Em todo momento ele estava tentando conter ela. Ela estava muito bêbada. Os dois estavam bêbados, mas ela estava muito alterada. Ele estava calmo, mas ela estava muito alterada e começou a discutir com alguém dentro da distribuidora”.

“O Paccola disse para o assessor pegar a arma, ele pegou, e nisso a Janaína ficou mais louca ainda e começou a gritar “me dá a arma. Cadê a arma?” e ela começou a fazer xingamentos contra o Paccola “porra, Paccola, você matou ele, cara. Por que você matou ele? Por que fez isso?”.

“Em momento nenhum ela foi socorrer o Japão. Não foi ver se ele estava respirando, se tinha que estancar sangramento por buraco de bala, não fez massagem cardíaca, respiração boca a boca. Não! Ela só sabia xingar o Paccola e gravar vídeo, live, fazer foto. Todo momento ela ficava gravando, na maior frieza”.

Laudo aponta que agente levou 3 tiros pelas costas disparados por Paccola
E1, E2, E3, locais no corpo por onde os disparos entraram. (Foto: Laudo pericial)

Entenda o caso

Em relato nas redes sociais, a namorada do agente, Janaína Sá, disse que estava dirigindo o carro e que entrou na rua Presidente Arthur Bernardes, na contramão, para usar o banheiro de uma empresa próxima.

Segundo ela, algumas pessoas a repreenderam por ter entrado em alta velocidade na contramão, mas negou que tivesse ocorrido qualquer briga.

Paccola disse que agiu rapidamente porque percebeu que um homem armado andava atrás de uma mulher, e populares haviam dito que se tratava de uma briga.

Alexandre Miyagawa foi enterrado no dia 7 de julho, no Cemitério Parque Bom Jesus, no bairro Jardim Cuiabá, na capital mato-grossense.

Fonte Primeira Página

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