Temos escolha? – Agora MT

Imagem: AGORA com Vanzeli Temos escolha?

Fui procurado por uma mulher há algum tempo. Perto dos seus 60 anos, disse-me que se sentia vingada com as palavras que no dia anterior eu havia dito durante um comentário a uma matéria jornalística no programa. Eu me dirigia aos telespectadores e afirmava que “aquele que agride sua esposa não é homem, na verdade; é moleque. E moleque, quando se casa, não vira homem, estraga a vida de uma mulher”.

Aquela senhora me falou, aos prantos, que sofre de violência moral há mais de 30 anos, tempo que dura seu relacionamento, e, por isso, enxergou na minha fala uma vindita, um desagravo. Perguntei-lhe por que não denunciava o homem. Disse-me que não poderia levar à polícia o pai de seus filhos. Indaguei, então, o porquê de ela não o deixar. “No fundo, acho que ele vai mudar”, devolveu-me. E, aqui, colidem-se as duas linhas filosóficas que balizam o pensamento acidental há milênios: o determinismo, de Sócrates, e o livre arbítrio, de Aristóteles.

O pensamento socrático ensina que “pau que nasce torto morre torto e até sua sombra é torta”. Não temos possibilidade de escolher nossa vida, já que nossas escolhas decorrem de nossa natureza. Para Sócrates, não somos o que fazemos; fazemos o que somos. Nessa escola do pensamento, a ocasião não faz o ladrão; a ocasião faz o furto porque o ladrão nasce pronto. Assim, não há possibilidade de mudança. O “ser” induz o “fazer”.

Para Aristóteles, porém, o homem é livre para escolher o caminho a seguir e é, afinal, o resultado da somatória de suas escolhas até então. Temos o livre-arbítrio e, portanto, a capacidade de construir nosso caráter. Se a vida de hoje não é a que se planejou no passado, basta mudar as escolhas no hoje para se ter uma vida diferente amanhã. Essa escolha, segundo Aristóteles, mesmo quando não é voluntária, é consciente; é uma decisão.

Voltando ao caso da mulher que me procurou, se aplicarmos o pensamento de Sócrates a seu caso, ela deveria sair correndo de casa, antes que o pior acontecesse, uma vez que seu marido não tem qualquer possibilidade de mudar, e continuará agredindo-lhe, moral e fisicamente. Se aplicarmos o pensamento aristotélico, porém, diríamos que ela deve denunciá-lo à polícia para que, premido pela possibilidade da reprimenda legal, o homem escolha não mais a ferir.

Do ponto de vista da segurança, acho que essa mulher deveria se afastar o quanto antes do agressor. A aliança formada pelo casamento já se quebrou há muito. Como cristão, porém, insto-me a acreditar na mudança. Só que tem uma premissa para que ela ocorra: pau que nasce torto dê nas mãos do “Carpinteiro”. Ele é mestre em melhorar pessoas. Ocupou-Se disso ao longo dos séculos, e é mesmo capaz de moldar corações já que Ele mesmo os criou.

O agressor da mulher acima pode mudar? Só se seu coração repousar em Deus, penso. Constantemente cito em minhas orações Uma frase de Santo Agostinho, bispo de Hipona, cidade no norte da África: “Fizeste-nos para Ti e inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em Ti”. Que os agressores de mulheres encontrem a Deus, pois. Até lá, porém, por precaução e segurança, o caminho é a denúncia das agressões à polícia e o afastamento dele.

Fonte Agora MT

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