Ói nóis aqui traveis – Agora MT

Imagem: AGORA com Vanzeli Ói nóis aqui traveis

Voltei! O título do editorial de hoje, que também dá nome a um clássico dos Demônios da Garoa, expressa mesmo toda alegria que sinto ao voltar a escrever. Ocupações dentro da empresa não me permitiram compor os textos que, a cada manhã, tenho publicado. Senti falta, mas já estou de volta. E tinha que ser num 14 de julho.

A data é celebrada pelo evento que iniciou o maior levante popular da história recente e que mudou completamente a concepção de Estado, a Revolução Francesa. Antes dela, um regime de “castas” determinava a organização política do mundo ocidental. A sociedade estava “organizada” em: Realeza (o rei e sua família), a Nobreza (aqueles que detinham poder sobre porções de terras), o Clero (membros da igreja Católica) e a Plebe (o resto).

Dentro da Nobreza, havia títulos de maior e menor importâncias, associados à relevância para o reino que a terra que possuíam tivesse. Em ordem decrescente, pois, havia os Ducados (ou principados), que eram verdadeiros Estados dentro do Reino, onde a vontade de seu soberano, o Duque, era feita; as Marcas ou Marquesados, que eram as terras de fronteira, onde governavam os Marqueses; e os Condados, terras menos importantes, e que eram administradas pelos Condes.

Com o advento das Cruzadas, que foram expedições religiosas-militares europeias, que tinham como alvo a conquista de Jerusalém das mãos dos “infiéis” muçulmanos, os plebeus (que compunham os exércitos) passaram a ter contato com as culturas do oriente e aprenderam duas ferramentas que revolucionariam o conceito de riqueza da Europa: o comércio e as práticas financeiras. Foram nove Cruzadas ao todo, num período de 200 anos, que começou por motivação religiosa para, ao final, ter o escopo mais comercial.

Alguns dos soldados que iam à Palestina nessas Cruzadas voltavam para a Europa e começaram a praticar as técnicas comerciais e financeiras aprendidas no oriente. Como consequência, enriqueceram. Tinham todo o dinheiro do reino, mas não tinham título; continuavam membros da Plebe. Para “ajeitar” isso, criou-se o título de “Barão”, concedido a pessoas importantes, mas sem direito a voto nas decisões importantes da nação porquanto não estavam atrelados à propriedade das terras (Ducados, Marquesados e Condados).

Os Barões, que tinham um título de nobreza “só para inglês ver”, com a desculpa de conceder mais segurança ao Rei, começaram a construir uma muralha de proteção ao redor do palácio real e a edificar suas residências luxuosas no interior desses muros, deixando a porção pobre da Plebe para fora. Foi a primeira versão de “condomínio fechado” da história. Esses espaços foram chamados de “burgos” e seus habitantes, por consequência, de “burgueses”.

A burguesia francesa, os “Barões” do dinheiro de então, detinha a riqueza da nação, mas não determinava seu destino. Era como se tivessem a bola, mas não jogassem. A única maneira de ascenderem seria um movimento de ruptura com a ordem instalada e a quebra do sistema. Os burgueses, então, passaram a apoiar e financiar pensadores como John Locke, Voltaire, Jean-Jaques Rousseau, Montesquieu, entre outros que, basicamente, se levantavam contra o absolutismo, pregavam a liberdade de expressão, a liberdade econômica e a tripartição do poder. Tais ideais provaram-se praticáveis com a Revolução Americana, que resultou na independência das colônias inglesas no continente americano e criação dos Estados Unidos da América.

A fragilidade política do Rei Luís XVI e a insensibilidade da Nobreza e do Clero em relação às agruras do povo que passava fome foram a tereno perfeito para o “vento da mudança” soprar mais forte e para dar início ao movimento político mais importante de nossa era, que começou num 14 de julho, em 1789, com a tomada de uma prisão política de então, a Bastilha. Aos “Barões” de hoje, fica o ensino da história: condomínios fechados não os põem a salvo se o povo passa fome. Violência não se resolve com exclusão. Cuidado.

Fonte Agora MT

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