Brumadinho: estudo aponta alta exposição de moradores a metais pesados
Após três anos da tragédia do rompimento da barragem B1, da mineradora Vale em Brumadinho (MG), moradores da cidade ainda lidam com as consequências.
Um estudo recente realizado pela Fiocruz Minas (Fundação Oswaldo Cruz) e pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) revelou que a população de Brumadinho possui elevado nível de exposição a metais tóxicos e consequentes problemas de saúde.
A primeira etapa do estudo, que avalia as condições de vida, saúde e trabalho, além das demandas para os serviços de saúde, da população de Brumadinho, após o desastre, foi concluída pelos pesquisadores. Um dos aspectos avaliados na pesquisa é o perfil de exposição a metais do município.
A dosagem de cádmio, arsênio, mercúrio, chumbo e manganês foi verificada por meio de exames de sangue eou urina. Os resultados mostraram que, entre os adolescentes, alguns metais estão acima dos limites de referência com destaque para arsênio total na urina (28,9% com mais de 10 μg/g creatinina), manganês no sangue (52,3% com mais de 15 μg/L) e chumbo no sangue (12,2% com mais de10 μg/dL).
Nos adultos, níveis aumentados de arsênio total na urina (33,7%) e de manganês no sangue (37,0%) também foram observadas.
As crianças de 0 a 6 anos de idade também foram avaliadas em relação à dosagem de metais presente no organismo, por meio de exames de urina. Do total de amostras coletadas, 172 foram consideradas válidas para análise. Os resultados mostraram que, em todas elas, foi detectada a presença de pelo menos um dos cinco metais em avaliação.
As análises também apontaram que 50,6% das amostras urinárias apresentaram pelo menos um metal acima do valor de referência. O arsênio foi encontrado acima do valor de referência em 41,9% das amostras analisadas e o chumbo em 13% delas.
Outro ponto analisado que chamou a atenção dos pesquisadores foram os casos de problemas respiratórios.
Entre os adolescentes, quando perguntados se já haviam recebido diagnósticos médicos de doenças crônicas, as respostas mais frequentes foram asma ou bronquite asmática, mencionadas por 12,3% dos entrevistados. Mas esse percentual é maior entre os moradores de algumas regiões, chegando a 23,8% entre os residentes do Parque da Cachoeira e 17,1% entre os que vivem no Córrego do Feijão, regiões diretamente expostas ao rompimento da barragem de rejeitos.
Pneumonia foi citada por 10,9% dos adolescentes, mas, entre aqueles que moram no Pires, região banhada pelo Rio Paraopeba que foi atingido pela lama, esse percentual foi de 16,7%.
Na população adulta, quando perguntada se algum médico já havia feito o diagnóstico de doenças crônicas, as mais citadas foram hipertensão (30,1%), colesterol alto (23,1%) e problema crônico de coluna (21,1%), com pequenas variações entre as regiões.
O diabetes foi prevalente em 9,8% da população adulta. Esse resultado mostra estimativas maiores que as encontradas na Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada pelo IBGE em 2019, que estudou a população do país com 18 anos ou mais e verificou hipertensão em 23,9% dos brasileiros, colesterol alto em 14,6% e diabetes em 7,7%.
Além disso, os entrevistados relataram outros sinais de problemas de saúde. Os adolescentes apontaram, com mais frequência, irritação nasal (29,7%), tosse seca (21,4%), dormências ou cãibras (19,5%) e tontura ou desmaio (18,4%).
Nos adultos, predominaram praticamente os mesmos relatos dos adolescentes, com algumas variações: irritação nasal (31,6%), dormências ou cãibras (25,8%), tosse seca (23,8%) e coceira na pele (18,4%).
Em ambos os públicos, esses sintomas foram mais frequentes entre os moradores do Parque da Cachoeira, Córrego do Feijão e Pires, regiões que foram diretamente atingidas pela lama da barragem.
A barragem B1, da mineradora Vale, rompeu no Córrego do Feijão em janeiro de 2019 matando 272 pessoas e contaminado toda a bacia do rio Paraopeba. Até hoje, ninguém está preso.
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Fonte CNN Brasil