Maia deixa 57 pedidos de impeachment na gaveta e diz que CPI é inevitável

Cinco pedidos foram arquivados liminarmente pelo presidente da Câmara por questões regimentais

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), aumentou o tom nas críticas contra o
presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em relação à condução do governo federal do
enfrentamento à pandemia de coronavírus no país. Chegou a afirmar que a demora no
início da vacinação pode levar à abertura de um processo de impeachment, mas que a
decisão caberá a seu sucessor no comando da Casa. Maia deixa a presidência da Câmara
com 57 pedidos de impeachment na gaveta.


Até agora, já foram apresentados 62 pedidos de cassação contra Bolsonaro, desde o início
de 2019. O último foi entregue na quarta-feira (20) por 1.450 ex-alunos da Faculdade de
Direito da Universidade de São Paulo (USP). Cinco pedidos foram arquivados
liminarmente pelo presidente da Câmara por questões regimentais.


A lista pode ficar maior nos próximos dias. Partidos de oposição devem apresentar um
novo pedido argumentando que Bolsonaro cometeu “crimes de responsabilidade em
série” na condução da pandemia do coronavírus.


Dos 62 pedidos protocolados até agora, 22 têm como justificativa a atuação de Bolsonaro
no combate à pandemia. Os pedidos também usam como argumento a participação do
presidente em manifestações antidemocráticas, a comemoração do golpe militar, ataques
à imprensa, o uso de disparo em massa de fake news durante as eleições de 2018, a
suposta interferência na Polícia Federal, crimes ambientais e a violação de tratados
internacionais de direitos humanos, entre outros.


Pedidos têm chance de prosperar?


Apesar de a temperatura em torno do tema ter voltado a aumentar com o colapso no
sistema de saúde do Amazonas, que fez com que pacientes internados por covid-19
morressem por falta de oxigênio em hospitais, e da demora no início da vacinação,
cientistas políticos ouvidos pelo Uol ainda não acreditam que haja uma onda próimpeachment se formando no país

“Provavelmente, como em outras situações, isso vai ser um clamor periódico que, pelas
circunstâncias políticas, não vai andar”, avalia o professor de ciência política da UFRGS,
Rodrigo Gonzalez.


Para ele, há, de fato, uma indignação popular contra Bolsonaro, mas isso não se reflete
em uma capacidade de ação no Congresso Nacional. “É muito mais provável que os
partidos apostem num desgaste Bolsonaro que impeça uma candidatura vitoriosa à
reeleição do que propriamente apostar na saída dele”, avalia.


Para o cientista político Doacir Quadros, ainda falta um ingrediente essencial para que o
impeachment de Bolsonaro possa se tornar uma possibilidade real: o povo na rua.
“Estudos mostram que, sobretudo na América do Sul, durante 30 anos os presidentes que
foram afastados tiveram de fato dificuldades de governar envolvidos em escândalos
políticos, com minoria no Parlamento. São características que o atual governo tem.


Entretanto, o fiel da balança para tirar governantes do poder é de fato a mobilização nas
ruas”, explica.


Para o professor de ciência política da UnB David Fleischer, a onda pró-impeachment
ainda precisa crescer mais e passar a refletir na popularidade do presidente de forma
aguda. Segundo o professor, o cenário mais propício para um eventual afastamento de
Bolsonaro seria mais de 60% da população a favor do impeachment e a popularidade do
presidente abaixo dos 20%. “Isso pode influenciar a Câmara”, analisa.


Nesta semana, Maia disse que não é o momento de abrir um processo de impeachment
contra Bolsonaro. “Acho que, neste momento, se a gente tira o foco do enfrentamento ao
coronavírus, a gente transfere para o Parlamento uma crise política e deixa de focar no
principal neste momento, que é tentar salvar vidas”, pontuou o presidente da Câmara.


Mesmo assim, afirmou que a abertura de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito
(CPMI) para “investigar tudo que aconteceu na área de saúde durante a pandemia” é
“inevitável”.

Fonte: Uol

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