Na pandemia, doenças mentais afetam tanto trabalhadores em home office quanto os que estão mais expostos ao coronavírus
Bancária em home office contou com ajuda psicológica e jovem que virou motoboy após ficar desempregado enfrentou carga exaustiva e medo da doença
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As doenças mentais, como ansiedade e depressão, atingiram as pessoas que estão em home office, durante a pandemia, mas também afetaram aqueles que trabalham mais expostos ao novo coronavírus.
(Na próxima semana o Bom Dia MT e o Bom Dia MS exibem a série “Um outro olhar: saúde mental na pandemia”, que traz reportagens sobre como a pandemia da Covid-19 mudou a vida das pessoas e impôs uma nova realidade, novos hábitos, mudou as relações, trouxe medo e preocupação)
A bancária Bianca Pereira possui uma doença genética e sempre trabalhou em home office, porém, saía com os amigos e sempre viajava a trabalho, mas, no começo da pandemia, as viagens foram suspensas.
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Bianca passou a ficar em casa após o aumento no número de casos. Os tratamentos tiveram que ser adaptados de forma remota para dar continuidade e todas sessões são feitas por videochamada.
Com isso, a saúde mental foi ficando cada vez mais afetada e decidiu procurar ajuda a um psicólogo e um psiquiatra.
“A gente faz as sessões online e decidi também procurar um psiquiatra porque eu senti que os sintomas da minha ansiedade estão no meu limite e acho que a só a terapia não resolve mais. Chegou o momento de procurar um pouco mais de ajuda”, disse.
Em dezembro de 2019, Bianca começou a passar mal e foi diagnosticada com H1N1. Naquele momento, ainda não havia a confirmação de uma pandemia, mas já havia a possibilidade do coronavírus chegar a outros países.
Bianca se vacina anualmente contra H1N1 e ficou surpresa quando foi diagnosticada com a doença.
“Sempre me vacinei contra a H1N1 todos os anos. Confio muito na vacinação e tenho certeza que isso já me ajudou muito, então eu levei um susto quando cheguei no hospital e os médicos desconfiaram de que poderia ser H1N1. Fiquei na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por 10 dias e depois foram vários dias de recuperação. Quando a pandemia começou em março, eu não estava 100% recuperada”, contou.
Durante todo esse tempo em casa, a bancária começou a estender a carga horária de trabalho por conta própria.
“Me sinto muito sozinha. O trabalho que já era home office, na pandemia eu tentei tampar os buracos das outras coisas que eu fazia com o trabalho. Eu trabalho por 6h, mas já me peguei trabalhando 12h, 13h e não era cobrado, mas eu que me voluntariava para fazer as coisas. Então eu me sinto muito cansada e sempre converso com a psicóloga que eu durmo o dia todo e continuo exausta. Ela fala para mim que é o cansaço mental”, contou.
Já o motoboy Daniel Epaminondas Martins Silva teve que se reinventar para garantir o sustento depois de ter sido demitido de um emprego com carteira assinada antes da pandemia. Um amigo sugeriu que ele trabalhasse como entregador por aplicativo. Ele contou com a ajuda da mãe para comprar a motocicleta, já que estava desempregado e não tinha condições financeiras de adquirir o veículo sozinha.
No começo do novo emprego, Daniel possuía metas a serem cumpridas para continuar sendo entregador.
De acordo com o motoboy, ele saía para trabalhar quando família ainda estava dormindo e voltava para casa muito tarde.
Os filhos começaram a sentir falta do pai que não tinha mais tempo para dar atenção as crianças.
“Eu entrava 8h e parava à meia-noite, ainda sem almoçar. Eu chegava em casa e eles (membros da família) estavam dormindo. Eu levantava e eles estavam dormindo, e eu já partia partia para o serviço. Eles começaram a sentir a minha falta. Eles (filhos) são tudo para mim. Eu trabalho para eles e as crianças não têm culpa de não ter um leite ou um pão. Eles querem levantar de manhã cedo e ter isso. A gente brinca de esconde-esconde e esse é o momento mais maravilhoso que eu tenho”, contou.
Com uma carga horária pesada, Daniel começou a ter o psicológico afetado de diversas formas. A preocupação com a doença e com a alimentação dos filhos foram fatores que começaram a prejudicar o motoboy.
“Você não para de pensar nas contas, alimentação, cuidados, e querendo ou não isso afeta o psicológico. Muitas vezes acordei chorando e já falei para a minha esposa que achava que estava com depressão, que não sabia o que estava acontecendo. Você fica em desespero porque vê tudo fechando e a pandemia se aproximando”, disse.
A mãe de Daniel se infectou com a Covid-19 e ficou com 25% do pulmão comprometido. Ela fez tratamento em casa e conseguiu se recuperar. Além dela, o irmão do motoboy também de contaminou. Esse foi o momento que sentiu mais medo.
“Meu principal medo foi com a minha mãe e com o meu irmão. Você nunca imagina que isso vai acontecer com você. Eu estava trabalhando e me ligaram falando que meu irmão estava com Covid-19. Ninguém podia entrar, tinha que ficar isolado e a minha mãe que teve 25% do pulmão comprometido. Eu não podia fazer nada e meu medo era de levar ela pro hospital e precisar ser entubada”, disse.
Fonte: G1